Contini Constrói Universo Angustiante
O Estado de São Paulo – Caderno 2
23 de agosto de 1994
Órfã da pintura moderna após a morte de Iberê Camargo, à arte brasileira resta concentrar-se na pintura que reorganiza e recompõe os vários signos e procedimentos das culturas visuais do passado remoto e recente, filtrados pela subjetividade contemporânea. Se até Camargo o pintor engendrava imagens e atitudes pictóricas no esforço de manifestar seu inconformismo e/ou suas utopias, o pintor atual, quando de interesse, parece encarar sua produção como atestado de sua perplexidade perante o mundo e a arte, não vendo fora dos limites da própria pintura, enquanto linguagem totalmente codificada, outro campo de atuação.
É nesse contexto de perplexidade, que gera um refluxo absoluto em busca de uma nova elaboração possível dos códigos visuais das mais variadas tradições, que se insere a produção de Carlito Contini. Faz anos o artista vem formando seu universo poético repetindo e fazendo confluir em seus trabalhos imagens e procedimentos pictóricos recolhidos em momentos diferentes da história da pintura. Em sua fase atual desenvolve a acoplagem de ícones arcaizantes com uma leitura irreverente e irônica da op art, transformando-a irremediavelmente em signo cristalizado.
Juntando visualidades tão antagônicas através de uma sensibilidade conectada com os limites impostos à pintura na atualidade, Contini constrói um universo obsessivo e angustiante, metáfora de sua perplexidade perante o mundo e a arte, metáfora da própria pintura de hoje.